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quarta-feira, 7 de maio de 2008

Do desenho à letra

Desde que o mundo é mundo e o ser humano se conhece “por gente”, ele sabe da sua necessidade de comunicação. Há oito mil anos atrás os trogloditas já procuravam registrar para a posteridade os fatos mais significativos de sua vida – os perigos pelos quais passavam e suas façanhas de caça. Faziam-no por meio de desenhos gravados nas paredes das cavernas.. Conta a história que em certas grutas da França e da Espanha, ainda hoje se podem ver exemplos de “escrita” figurativa – cujas “letras”são as próprias imagens do homem e dos animais da época: bisões, ursos, veados, lobos, javalis, etc. Essas narrativas em murais demonstram que, embora os “escritores” da época tivessem bem pouco talento literário, dispunham de uma grande habilidade plástica, pois seus desenhos reproduziam com muita fidelidade os modelos. A arte de contar histórias por meio de figuras, criada pelo homem pré-histórico, preservou-se através dos tempos. Estava em pleno uso três mil anos depois, entre os egípcios, que já não eram primitivos, ocupados apenas em caçar e fugir dos bichos que não conseguiam abater. Viviam sim, numa sociedade organizada, já bastante complexa, e sua escrita refletia isso. Empregavam sinais capazes de exprimir as mais diversas situações e fatos. Com o passar do tempo ocorria a transformação do significado e do formato dos hieróglifos – nome dado aos caracteres egípcios que designavam objetos com os quais se pareciam. Os escribas tinham que trabalhar depressa e não podiam caprichar muito nos desenhos que faziam e, por isso, as figuras foram simplificando-se gradualmente. Mais ou menos na mesma época, desenvolvia-se na China um sistema de escrita que também fazia uso de desenhos estilizados, cada qual representando um ser, um fato, objeto ou idéia. Enquanto outros povos sintetizavam suas formas de escrita, diminuindo o número de sinais empregados para tornar mais fácil a tarefa de ler e escrever, a escrita chinesa mudou bem pouco. Até hoje os chineses utilizam milhares de caracteres para se comunicar. Os fenícios eram bons comerciantes e gostavam das coisas bem práticas. Desenvolveram um sistema de escrita composto de apenas 22 sinais. Em vez de indicar idéias completas, representavam unidades de som, as quais, em conjunto, constituíam as palavras. Viajando por toda parte, divulgaram seu sistema entre diversos povos, mas foi na Grécia que encontrou melhor recepção e condições de evolução rápida. Depois de completar e aperfeiçoar o alfabeto fenício, os gregos o deram de presente aos romanos, que o adaptaram à língua latina. No setor do manuscrito o progresso foi pequeno porém, no da escrita impressa foi enorme. O desenho das letras se modificou, a distribuição de espaços também e mil e um melhoramentos foram adotados para tornar a escrita mais clara, mais bonita e mais fácil de ler. Graças ao sistema Braille de impressão em relevo, hoje também cegos e míopes têm acesso à leitura. Em vista desta evolução, não podemos prever como será a escrita daqui a centenas de anos. Mas podemos imaginar que será algo de deixar pasmo o troglodita das cavernas – primeiro homem a dizer as coisas por escrito.

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