Sempre pontual!

domingo, 23 de setembro de 2007

Sobrevivência...

Desde a virada do milênio, a preocupação e a consciência sobre a questão do índio têm se tornado mais intensa, porém, muito pouco solucionada. Enquanto isso, corre vivo o “sangue guarani” nas lendas, na linguagem, na medicina de ervas, nas cuias e pacotes de mate que ganharam importância econômica em todo o Sul... Na criação de gado introduzida pelos jesuítas, base da economia gaúcha; nas canções missioneiras, cantadas em versos pela voz maravilhosa de nossos tradicionalistas... É a herança indígena, presente entre os representantes de todas as raças miscigenadas, que alguns trazem no sangue, outros na cultura. E os descendentes dos índios das reduções, que conseguiram manter intactas suas raízes, onde estão e como vivem? A partir de 1994, um grupo, vindo da Argentina e Paraguai, vive em acampamentos no município de São Miguel das Missões. É uma área do parque da Fonte Missioneira, uma bica d’água que havia sido usada pelos jesuítas para abastecimento, pertencente ao patrimônio nacional. “No início, houve uma certa resistência do governo para deixar os índios ficarem em São Miguel”, conta Luís Cláudio Silva, diretor da Tekohá, uma ONG preocupada com a preservação dos remanescentes das missões. Segundo ele, o governo temia que a memória histórica da cidade legitimasse os guaranis a começar uma luta pela retomada das terras locais. Em casas construídas com taquaras, cobertas com papelão, palha ou lonas pretas, cada uma abrigando mais de uma família, a aldeia se preocupa com as crianças que são numerosas. Apesar do cuidado com as tradições, a cultura ocidental mudou bastante a nova geração. O cacique Nicanor Benítez Karaí, que coordena a tribo, fala guarani, espanhol e português. Atende os visitantes, prontamente e revela um pouco da situação em que vive o grupo na aldeia. Conta que muitos, além do idioma guarani, falam espanhol, não português. A arte ainda está presente em todo o grupo guarani, que produz artesanato em madeira, cestos, e colares. È constante a dedicação à música e a dança coletiva. Nas terras doadas pelo governo local, plantam batata, milho e mandioca. De longe, parece um acampamento de sem-terras. De perto, aparecem os cestos trançados e as crianças de cabelo negro e comprido correndo de pé descalço pelo barro vermelho e sujo...Vamos ficar aqui. Está bom, temos terra para plantar, diz o cacique. Por quanto tempo, eles não sabem. Esses descendentes guaranis, assim como seus antepassados, também produzem esculturas. Não mais dos santos católicos, mas inspirados na fauna da região e nas ruínas das missões. Não fazem apenas como pura manifestação artística, mas por questão de sobrevivência. Do mato em volta do acampamento, os guaranis tiram a corticeira. A madeira macia é o sustento da tribo. Dela saem os bichinhos modelados a faca e fogo. Em minutos, suas mãos de hábeis artistas, transformam galhos em onças, corujas e outros pequenos animais que são vendidos aos turistas na frente das ruínas de São Miguel. O artesanato é uma das tradições da tribo, junto com a língua, o guarani, misturada com um espanhol fluente... Apesar de séculos de ataques contra sua cultura, os guaranis das missões conservaram suas tradições, língua, crenças e, na medida do possível, até o estilo de vida. É claro, tiveram que se adaptar e também foram adaptados.

Nenhum comentário: