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domingo, 27 de abril de 2008

Relato do Projeto

RESGATE DA ARTE BARROCA MISSIONEIRA Nasci em Caibaté onde cresci ouvindo lendas, mitos e histórias reais e fictícias da saga missioneira. Natural curiosidade fez-me conhecer mais sobre a história das Missões. Relacionado a ela, encontrei um manancial de artistas em São Luiz Gonzaga onde fixei residência em 2003. Interpretei como fruto de grandes Mostras Internacionais da Arte Missioneira realizadas no passado. Autodidata em artes plásticas, no ato do remanejo fui destinada à E. E. de Ens. Fund. Dr. Mário Vieira Marques - CIEP, para atuar como professora nas Oficinas de Artes com 3ª e 4ª séries do Ensino Fundamental. A escola localiza-se na periferia de SLG, próxima ao presídio. Os alunos provém em sua maioria, de famílias desestruturadas socialmente, bem pobres, onde o responsável sustenta a família com menos de salário mínimo mensal. Trabalham como catadores de papelão, garrafas pet, cortadores de grama e outros serviços de “picaretagem” (sem data fixa). Alguns dos alunos têm os pais presos por infrações...São crianças rebeldes, desmotivadas, sem ânimo para estudar. As professoras vivem o desafio de abrandar protestos, cenas de violência, falta de respeito, furtos, etc. e a necessidade de definir limites, procurando dar a educação básica que compete à família. Como profª de Arte, vejo nesse ramo uma forma de diminuir as penas cruciais em que vivem as crianças. Sinto-me desafiada a transmitir o gosto pela arte, em proporcionar momentos prazerosos para atenuar os conflitos que trazem de casa. Observo que em geral correspondem, mudam de comportamento. Percebo que a música os condiciona a entrar no clima de concentração... Ao trabalhar com desenho, pintura, música (canto) e dramatização, constatei em alguns alunos, bastante facilidade, interesse e natural motivação para essa arte, contrastando com as demais atividades em outras disciplinas. Desde que cheguei, observei no rostinho de vários alunos, traços bem marcantes da etnia indígena guarani. Fiz um levantamento sobre o possível parentesco com as tribos de nativos que aqui viveram no passado. Fiquei surpresa e triste ao perceber que “ninguém queria ter descendência de índio!” Houve gestos de repulsa entre as crianças de traços mais evidentes. Questionei sobre os motivos da reação de repulsa. Alegaram, prontamente: “Índio é feio, é pelado; não tem onde morar, nem o que vestir. Só vende balaios (cestos de taquara) nas ruas”. Quando soube do Projeto VIII Prêmio Arte na Escola Cidadã / 2007 através do hotsite repassado às escolas pela 32ª CRE, interessei-me pensando que “Resgate da Arte Missioneira” seria o tema ideal para valorizar a arte indígena e devolver sua auto-estima, em declínio. Resolvi colocá-lo em ação, com incentivo da escola e apoio da colega, Profª Marisa, que auxiliou com material. Além de estudar a arte como um todo, pensei em especificar o assunto e colocar o título: “Resgate da Arte Barroca Missioneira,” oportunizando aos alunos o conhecimento e destacando as características desse estilo trazido da Europa, único no Brasil e no mundo (diferente do barroco mineiro e europeu) e assim ressaltando a importância das obras criadas pelos ancestrais guaranis. O primeiro passo: pesquisar na Wikipédia, em diversos sites da internet e em livros disponíveis na biblioteca local, referentes ao assunto; base para iniciar um diálogo expositivo na sala de aula. Com as duasturmas de 4ª série, o assunto foi mais aprofundado, usei mostras de imagens e fotografias das obras existentes. Na sala de informática oportunizei a pesquisa pelo Google sobre Arte Barroca Missioneira. Para as duas turmas de 3ª série fui menos detalhista na explicação e menos exigente nos resultados. Em 2º plano, fiz um roteiro e visitei com os alunos, diversos espaços artísticos e turísticos no centro da cidade que a maioria não conhecia. A Profª Marisa aceitou acompanhar-nos. Com breve preparo, fomos ter contato direto com as obras barrocas da igreja matriz católica de cores fortes e posição de movimento em alto relevo esculpidas em madeira. Observar de perto o santo de “pau oco”, usado pelos jesuítas na dramatização para catequese. Entrevistamos o artista plástico Arno Schleder que estava pintando um quadro com tema indígena no Atelier de Artes Los Libres. Solicitamos palestra com o escultor Vinícius Ribeiro no seu ambiente de trabalho. Na Galeria Histórica os alunos puderam apreciar quadros de diversos vultos importantes e uma bela maquete, moldada em resina, modelo de planta, reproduzindo a organização das reduções jesuíticas dos Sete Povos das Missões. Visitamos também: dois museus e o Centro de criatividade “Arte Nossa”, todos com importantes fontes de pesquisa e acervos de imagens e obras de inestimável valor histórico. De volta à escola, a turma foi relatando o que viu. Diversas atividades foram desenvolvidas. Eis algumas: Estátuas em estilo barroco – reproduzir pelo desenho quadriculado nos tamanhos normal, reduzido e ampliado. Arcos e fachadas – modelagem em dois tipos de massinhas e após também com argila. Música – conhecer a letra e melodia de autores missioneiros. Quatro atividades ficaram no plano para serem desenvolvidas após o envio do relato junto com a inscrição: Resgatar a música e a melodia indígena guarani; dramatizar o Jesuíta catequizando os índios guarani; construir maquete a partir de planta-modelo das reduções e, produzir máscaras de gaze com gesso (santos contemplativos e índios). Com as atividades feitas, pude constatar que os educandos demonstraram um aumento significativo de entusiasmo e interesse em conhecer a Arte passada e presente das Missões. Percebi que foram aceitando, aos poucos, com maior prazer todas as atividades, e a partir delas, os descendentes indígenas, mudaram sua postura, construíram conceitos novos sobre os valores herdados dos ancestrais e passaram a compreender o fato de serem os seus antepassados, o alvo turístico nas missões, hoje.

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