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sábado, 8 de setembro de 2007

Missões: a conquista espiritual através da arte

A arte que se desenvolveu nas missões não tinha finalidade lucrativa nem estética. Estava a serviço do ensino da religião cristã e satisfazia as exigências pedagógicas da Companhia de Jesus: iniciar os índios nas artes manuais. Nos arquivos da história missioneira consta que a arte em todas suas linguagens foi o recurso usado como apoio na catequese e fazia parte do conjunto da organização das missões. Desde a infância, alguns índios aprendiam a tocar e a fabricar instrumentos musicais copiados de originais europeus. O estilo barroco influenciou a arquitetura, escultura, pintura, teatro e música. Os Guarani tornaram-se escultores, cantores, músicos, impressores, pedreiros, e ferreiros cujos trabalhos evidenciavam a presença de traços culturais indígenas. A arte missioneira sintetiza os conhecimentos artísticos europeus com a produção dos indígenas. Os Guarani tiveram como mestres, jesuítas de formação sólida nas ciências e nas artes. Desses destacaram-se o padre Antônio Sepp – na música, botânica e fundição de ferro; o padre José Brasanelli – na arquitetura e escultura e o padre João Batista Primoli – responsável pela igreja de São Miguel Arcanjo. Imprimiram livros, criaram esculturas, pinturas, relógios de sol, sinos. Ao entrar na missão, o primeiro sacramento do ritual católico era o batismo que além de representar a profissão de fé, principiava a identidade missioneira. Naquele momento o infiel passava a ser fiel e ingressava nos ditames da sociedade global espanhola. Os índios selvagens passariam então a viver, primeiro como seres humanos e logo mais, como cristãos. A própria condição de ser humano partia daquele ritual de transição, da vida tribal para a vida chamada “civilizada”. As obras artísticas eram os instrumentos usados nessa transição. Dentro desse quadro deduz-se então que a intenção do Estado, da Igreja e da Companhia de Jesus, foi, através do missionário, salvar os índios da “infidelidade”. A religiosidade do guarani foi qualificada de impostora e enganosa perante a “verdade” tida como absoluta do cristianismo em expansão.A Missão deveria facilitar a passagem do pensamento mágico-religioso envolto em crendices, superstições e atitudes demoníacas, para o racionalismo qualitativo católico como era a lógica do conceito cristão. O cristianismo estava amplamente representado pelas imagens de santos e anjos, esculpidas e veneradas pelos fiéis guaranis em toda missão.A arte nas missões tinha sua função, e continua hoje, embora com diversa finalidade, cumprindo com seu papel de expressar sentimentos e conquistar a transcendência, o espírito.

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